PENSAMENTO POSITIVO FUNCIONA?
PENSAMENTO POSITIVO FUNCIONA?
Por Sara Matos | Psicóloga e Terapeuta
Já ouviu alguém falar para você, naquele momento crucial, “pensa positivo que dá certo!”. Ou então, te fazem a pergunta clássica para saber se você pensa positivo ou não: “para você, um copo está meio cheio ou meio vazio?” Bom, essas frases estão comumente associadas ao pensamento positivo e seus efeitos benéficos para corpo e mente. Sim, você leu direito… efeitos benéficos! Porque já se descobriu que ele faz muito bem!
Bom, vamos começar já assumindo que frases de efeito nas redes sociais e aquela batidinha nas costas seguido de um sonoro “veja pelo lado bom…” não tem muito a ver com pensamento positivo, pelo menos não da forma como vou tratar nesse texto. Vou começar falando o que NÃO É pensamento positivo: pensar que algo vai se resolver só porque você deseja que seja assim. Não estudou para uma prova e acha que “pensamento positivo” vai te ajudar a passar de ano. Não trabalhou e “pensa positivo” que algo de muito bom vai acontecer e você terá dinheiro para pagar todas as suas contas! Desculpa, gente… pensamento positivo não é milagre, e também não é só demonstrar uma atitude otimista ou sorrir diante das dificuldades. Isso é o que se chama de wishful thinking, ou pensamento positivo mágico.
Vamos começar falando um pouco de um grande amigo nosso: o cérebro. Ele tem, em sua estrutura, o sistema límbico que é composto, dentre outras parte, pelo hipotálamo e amígdalas (as que ficam no cérebro, e não as da garganta, viu?!). Porque é importante você saber disso? Porque é nesse espaço do seu cérebro, principalmente nessas partes, onde suas emoções e comportamentos são processados. A função de cada um, de uma forma BEM resumida é: a amígdala é o centro do medo, da agressividade, da sexualidade e das emoções mais instintivas, que nos coloca em alerta e controla nossas reações de lutar ou fugir diante de perigo; e o hipotálamo, que é a parte mais importante do sistema límbico, está relacionada às emoções de prazer, raiva, aversão e ao riso incontrolável, bem como suas expressões fisiológicas e físicas, pois também controla temperatura corporal, batimento cardíaco, sono, fome e sede e outras funções fisiológicas. Ambas atuam de forma conjunta nas situações onde temos que ter uma resposta emocional e fisiológica a um acontecimento, seja ele positivo ou negativo.
Então, digamos que você é o Hugh Glass, personagem do filme O Regresso, está na floresta e vê um urso. Você percebe que está em perigo e começa a sentir medo. Diferente do Hugh Glass, você decide correr para o lado oposto ao do urso, para salvar sua vida. Nesse momento, por causa do medo, seu coração acelera, seus músculos se enrijecem e corpo inteiro se prepara para correr o máximo que conseguir e, para isso, outras funções cerebrais suas foram preteridas, dentre elas o pensamento racional e o processo de escolha como forma de prevenir que você se distraia e seja comido por algum animal. Hoje, não temos mais a necessidade de lutar com animais selvagens pela nossa sobrevivência, mas o cérebro não entende isso e continua agindo da mesma forma como sempre agiu. Ou seja, toda vez que sentimos medo, mesmo não sendo mais em situações nas quais nossa vida depende, como na época dos nossos ancestrais, o nosso cérebro e corpo respondem da mesma forma: aumenta o batimento cardíaco, músculos se enrijecem e não pensamos direito. Achamos que não temos escolha. Mas não corremos, porque não há um perigo real para fugirmos. E o que acontece é uma retroalimentação do medo: temos um problema -> sentimos medo/raiva -> corpo se prepara -> não identificamos o foco de perigo -> não nos protegemos -> continuamos com medo -> corpo continua com batimentos acelerados -> ciclo continua por muito tempo -> ansiedade -> não resolução da causa do medo -> pensamentos não racionais de incapacidade -> depressão. A partir de uma emoção negativa causada por um evento estressante, entramos em um looping que é retroalimentado por pensamentos negativos repetitivos que reforçam nossa suposta incapacidade de sairmos dos nossos problemas. E esses pensamentos impedem que tomemos decisões, que vejamos outras opções e continuamos com o problema sem ser solucionado. Eu, particularmente, chamo isso de espiral da ‘morte’.
Até aqui entendemos o papel dos pensamentos e emoções negativas. São chatos e prejudicam nossa vida e nossas relações muito mais do que gostaríamos. Mas (ufa!) existe um outro lado. E é aqui que entra o pensamento positivo, emoções positivas e os benefícios de longo prazo que eles geram.
Barbara Fredrickson, em 2004, fez um experimento onde separou pessoas em 5 grupos: dois deles veriam vídeos de alegria e contentamento, um grupo veria vídeos neutros, e dois grupos veriam vídeos de medo e raiva. Após o vídeo, ela pedia para que os participantes pudessem relembrar situações em suas vidas que tivessem passado pelas emoções que viam nos vídeos e, logo em seguida, escrevessem o que gostariam de fazer logo em seguida do teste. As pessoas dos grupos de emoções positivas escreveram que gostariam de fazer mais coisas do que as pessoas do grupo que havia visto imagens negativas, e até o grupo do vídeo e emoções neutros. A conclusão desse experimento é que, quando você experimenta pensamentos e emoções positivas, como contentamento e alegria, você realmente amplia as possibilidades de ação porque você consegue enxergar mais opções. Bem diferente de quando temos pensamentos e emoções negativas.
Ou seja, o fato de você experienciar emoções e pensamentos positivos tem um impacto imediato na sua qualidade de vida, porque amplia suas possibilidades de escolha para resolução de problemas. Esse aumento de opções pode até trazer à consciência soluções criativas e diferentes que não haviam sido pensadas antes. E essas novas soluções fazem com que você adquira novas habilidades e competências que te garantirão, no futuro, uma resolução mais rápida de situações-problema. É um espiral ascendente vívido, fluido, cheio de vida.
Mas como é que se pára um espiral descendente para começar a vivenciar o espiral ascendente? Aqui algumas dicas:
– Preste a atenção na sua respiração. Quando estamos com medo, ansiosos ou com raiva, nossa respiração fica curta e rápida. O aumento do ritmo respiratório é um comando cerebral para preparar pro seu corpo para responder de forma ágil à situação de risco, já que ele aumenta a quantidade de O2 (combustível celular) no sangue que vai para os músculos (mesmo processo que passamos quando estamos fazendo uma prova de corrida, por exemplo). É necessário mostrar para nosso cérebro que ele precisa desacelerar e relaxar, pois não há perigo nenhum naquele momento. Fazemos isso tomando inspirações profundas e deixando o ar sair por completo na expiração, repetindo o processo até a desaceleração dos batimentos cardíacos. Com um corpo em um menor estado de alerta, você começa a acessar estados mais positivos, liberando seu cérebro para perceber que existem outras formas de se resolver o problema.
– Meditação: parar por 5 ou 10 minutos por dia para perceber seu corpo de forma consciente traz benefícios para sua saúde física e mental incríveis. Quando você medita, percebe melhor o ritmo de sua respiração e, em momentos de stress, consegue identificar os momentos em que precisa controlar melhor o ritmo de sua respiração, para acessar estados positivos de pensamento.
E se ainda assim você tiver dificuldades em acessar emoções positivas e ter pensamentos de alegria e contentamento, um bom psicoterapeuta pode te conduzir num processo de descobrimento de ferramentas para te ajudar a acessar estados positivos de emoção e pensamento.
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Um comentário
Espectacular, É incrível como podemos controlar nossa mente e corpo de uma forma maravilhosa.